Uma paixão de criança

Paulo disse que precisamos deixar de ser crianças, mas Jesus disse que o reino dos céus é daqueles que são como crianças. Esse é um dos muitos paradoxos bíblicos (Ef 4.14; I Co 3.1-2; I Co 13.11 e I Co 14.20 compare com Mt 18.3 e Lc 18.17).
Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes. Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras. (Mt 11.16-19)
Existe uma doença terrível que pode nos acometer: podemos nos tornar radicalmente insatisfeitos e nossa alma pode desaprender os caminhos da alegria e da resposta feliz ao ministério e à vida.
Jesus identificou na geração daqueles dias essa doença e para diagnosticar esse mal o Senhor usou a si mesmo e a João como exemplo.
Primeiro o Pai enviou a João, que não comia nem bebia, e disseram: Tem demônio! Quando o convidavam para sentar-se à mesa ele preferia sentar-se no chão.
Se lhe oferecessem um manjar finíssimo ele iria preferir um gafanhoto cru.Se alguém o convidasse para beber vinho ele iria preferir beber da água do Jordão.
Nem se fala em grife, pois se vestia de peles de camelo e de cabrito.Nunca ia a festas ou reuniões, mas estava sempre no deserto e nos lugares ermos. Quem quisesse ouvi-lo tinha de ir ao deserto. Era o típico esquisitão espiritual. Era cheio de Deus, mas muito esquisito. Mas quando os fariseus o viram pregando o acusaram de ter demônio. Pensavam: “que vida estranha, que tipo de vida horrorosa, que maneira estranha de viver”.
Depois veio Jesus. Ele vive de modo completamente diferente do seu primo, João Batista. Jesus come de tudo. Bebe o que lhe põe a frente. Seu primeiro milagre não foi num deserto, mas num casamento. O milagre é transformar água em vinho para que a festa não se acabe antes da hora.
Seus amigos são os mantidos na periferia. Não possuem pedigree. São destituídos e despojados como pescadores, lavradores e gente simples do povo. Quando convidado a um funeral ele vai e chora.Se convidado a um banquete ele aceita e come, conversa e conta histórias.
Num mesmo dia ele saia de um cemitério em Gadara e vai para a casa de um chefe da sinagoga, Jairo. Ele vai do profano, religiosamente falando, até o mais aceitável. Mas olharam para ele e disseram: “Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!”
O que o Senhor está dizendo é que nem Deus consegue fazer vocês felizes. Ele mandou João para aqueles que gostam de brincar de funeral, mas vocês não gostaram. Então ele mandou o Messias que liberta os oprimidos com a sua palavra, que destila cura e milagres nos dedos, que fala de Deus enquanto sorri e que chora antes de ressuscitar o morto só para não perder a chance de ser integralmente gente. Mas mesmo assim não gostam. Dizem que é um glutão e amigo de párias.
O que isso tem a ver com você? Quem faz as pessoas se tornarem assim é a religião. A religião nunca se contenta com coisa alguma.
Para abrir a nossa imaginação e percebermos essa realidade Jesus usa a analogia da praça, da brincadeira dos meninos. Jesus lhes diz: vocês são como meninos na praça, mas são uns meninos emburrados. Sofrem de um mal humor crônico.
Um grupo diz: “vamos brincar de enterro?” O outro rejeita. Daí esse grupo diz: “vamos brincar de dança, de ciranda cirandinha? Ele toca flauta e a gente dança”. Mas os outros não querem.
Quando convidados a chorar vocês não choram e quando convidados a dançar vocês não dançam. Disse Jesus: “vocês estão de mal com a vida”.
1. Somos crianças do reino ou somos meninos egoístas
Do ponto de vista espiritual nós somos meninos sempre. Ou nós somos aqueles meninos imaturos, egoístas e caprichosos de quem Paulo diz que precisamos deixar de ser, ou nos tornamos as crianças do reino.
O posto desta meninice egoísta, mal humorada e infeliz não é aquela meninice adulta, madura e circunspecta, mas é sermos aqueles meninos do reino, cheios da alegria de viver com Deus. Não devemos nos tornar aqueles “adultos da fé”,
Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira alguma entrará nele. (Lc 18:17).
Nós não somos convidados a deixar essa meninice e nos converter numa meninice super séria e emburrada, mas somos convidados a nos convertermos a uma meninice cheia da alegria e da vida abundante de Deus.
Precisamos ser capazes de dizer para Deus qual a brincadeira de hoje? Eu estou nela!
Nós fomos chamados para brincar as brincadeiras de Deus no mundo. Como ministros precisamos renovar sempre essa alegria infantil do serviço de Deus. Quando somos capazes de transformar as coisas mais simples numa verdadeira alegria.
Existe um lado da paixão que é a capacidade de ter alegria e divertir-se mesmo com a obra mais séria. Não há nada que não possa se transformar numa brincadeira para verdadeiras crianças. Se as colocarmos numa sala fechada elas vão arrumar um jeito de se divertirem ali.
Toda brincadeira é contagiante e atrai cada vez mais meninos. Infelizmente alguns líderes perderam essa alegria apaixonada do serviço de Deus.
De qualquer forma sou um menino. Ou menino emburrado ou um menino simples e descomplicado disposto a brincar com Deus.
2. Crianças do reino brincam as brincadeiras de Deus
Jesus disse que as crianças estavam sentadas na praça. Pode haver algo mais antagônico do que menino sentado na praça? Meninos não sentam para olhar o brinquedo. Velhinhos sentam na praça e jogam dominó, mas meninos não sentam na praça.
Meninos fariseus ficam sentadinhos na praça. Não aceitam brincar de nada. Quando perdemos a espontaneidade para as coisas de Deus nos transformamos nos meninos insuportáveis da religião.
Não há nada pior do que meninos envelhecidos. Quando somos as crianças do reino podemos ter a atitude de uma criança que recebe um brinquedo novo.
Crianças não deixam de brincar porque dá trabalho a brincadeira.Crianças não se importam com a hora se ganham um brinquedo novo. Mas meninos emburrados não ligam pra o brinquedo.
O ministério pode ser um desfrute. Basta que transformemos nosso trabalho numa grande brincadeira cheia de criatividade e empolgação.
Jesus usa ainda a imagem de crianças brincando na praça. Crianças que não brincam na praça têm alguma coisa doentia e errada. Jesus pensa o reino de Deus como um encontro na praça. Deus espera que a nossa vida e nosso ministério sejam como uma grande brincadeira na praça.
A imagem do jogo na praça é uma ilustração da nossa espiritualidade. Nossa espiritualidade é percebida no relacionamento como numa praça. Precisamos ter cuidado pois se nos tornamos crianças caprichosas, emburradas e insatisfeitas pode ser que João Batista venha e o rejeitemos porque não gostamos do jeito dele. E vem o Messias e diz: “vamos celebrar”, mas podemos rejeitá-lo porque não gostamos do jeito dele.
Nos tornamos assim quando nos prendemos em nossos conceitos religiosos e nossas tabelas estreitas que não admite mudança. Deus vem a nós e não podemos receber dele por causa da amargura religiosa. Para experimentar Deus hoje precisamos da espontaneidade das crianças para brincarmos as brincadeiras de Deus.
3. As crianças do reino podem se tornar os meninos amargurados da praça
Crianças do reino dizem: “Que bom ver que Deus está usando aquele irmão. Que bom que aquele outro está prosperando. Qual vai ser a brincadeira de hoje? Pregar no hospital? A graça de Deus cura. Pregar no velório? O Senhor nos consola. Vamos para a praça?”
Os meninos emburrados não ligam a mínima para o brinquedo. Eles agradecem e ainda reclamam que já têm brinquedo demais.
É terrível quando perdemos a espontaneidade na vida com Deus. Quando queremos ter tudo programado e definido não dando lugar para a ação de Deus. Quando perdemos a espontaneidade nos tornamos os meninos amargurados da religião.
4. As crianças do reino podem se tornar os meninos amargurados quando a praça é vista como uma batalha campal
Jesus disse que as crianças gritavam umas para as outras. Esse grito é o grito da agressão, das gangues, é o grito de guerra. É terrível quando deixamos de ver a vida como uma santa brincadeira e passamos a vê-la como uma guerra onde o irmão é o inimigo.
Há pessoas que vêm o próximo como algo perigoso. Amizade, proximidade e comunhão não fazem parte da vida deles.
5. As crianças do reino podem se tornar meninos amargurados quando se tornam meninos negativos
A atitude dos meninos na praça é a atitude do “não”. Eles não têm a atitude do “vamos”.
A resposta deles para as propostas das outras crianças é sempre não. É a maneira de viver que não dá alternativa. Não quero esse, mas quero aquele. Mas essas pessoas dizem: não quero esse e nem aquele, não quero nada.
Os dois sintomas mais radicais dessa enfermidade são:
A tristeza sadia que é vista como opressão maligna.
A alegria que é sempre vista como leviandade.
Tais pessoas vivem engessadas e angustiadas numa existência sem lágrima e sem sorriso.
Se esse mal nos atingir o que fazer para se livrar dele?
Rejeite toda padronização do mover de Deus. Simplesmente aceite a maneira de Deus agir na sua vida.
Receba aqueles que Deus enviar a você. Não defina padrões rígidos do que seria o homem de Deus ideal.
Procure conservar vivo o menino que há em nós. Deixa o menino do reino transmitir a vida abundante que o Senhor veio nos dar. Não há como ter vida abundante sem se parecer com uma criança na maior parte do tempo.
Pr. Aluízio A. Silva
fonte: www.IgrejaVideira.com

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